Ponto ISP

Vantagens e desafios do Open RAN

*Por Marcos Takanohashi 

Nos últimos cinco anos, o conceito de Open RAN vem gerando um interesse significativo no setor de telecomunicações. De acordo com o analista-chefe da Mobile Experts, Joe Madden, quase todas as empresas que atuam no mercado de acesso por rádio estão “de olho” no Open RAN. Mais especificamente, Madden espera que a tecnologia seja a “solução de escolha” para problemas de cobertura. Como ele aponta, o hardware e o software Open RAN podem ser mais baratos, ao mesmo tempo em que alcançam cobertura semelhante à das arquiteturas tradicionais. 

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O Open RAN oferece várias vantagens notáveis para as operadoras de telefonia móvel. Em primeiro lugar, ajuda a reduzir os custos com equipamentos de processamento comercial pronto para uso (COTS) para a unidade de banda base (BBU) e a comoditização do hardware RU. Em segundo lugar, suporta a desagregação do software do hardware proprietário, e assim facilita a criação e a implantação rápida de novos serviços e soluções operacionais. Além disso, o Open RAN oferece suporte a um ecossistema de cadeia de suprimentos mais robusto, que incentiva ativamente a entrada de novos fornecedores no mercado. Isso significa avanços em inovação e competitividade. 

Diferenciais como esses explicam por que o Open RAN despertou o interesse de muitas empresas de telecomunicações. No entanto, é importante entender que há uma série de desafios e preocupações legítimas que devem ser avaliadas antes que seja alcançada a adoção mais ampla e abrangente do conceito. Essas questões incluem: 

A desagregação da RAN aumenta o número de elementos individuais e conexões de rede. Isso despertou alguma preocupação, no sentido de que o Open RAN poderia ser potencialmente mais inseguro do que seu antecessor “fechado”, devido ao número maior de interfaces. Embora seja uma preocupação compreensível, um relatório publicado recentemente pela 451 Research (agora parte da S&P Global Market Intelligence), mostra que um dos “aspectos mais impactantes” em segurança no vRAN (o RAN virtualizado) aberto é a capacidade das operadoras de gerenciar diretamente o nível de confiança em suas redes. É com esse entendimento que um fluxo de trabalho ativo dentro do O-RAN Working Group está tratando das questões relacionadas a implantações no mundo real, muitas das quais não são necessariamente isoladas para O-RAN. 

Assegurar interoperabilidade em todo o ecossistema Open RAN é uma tarefa difícil e, portanto, uma prioridade para o grupo focal de teste e integração de O-RAN. Olhando além do O-RAN, empresas de teste como a Keysight estão trabalhando para habilitar o ecossistema O-RAN de uma maneira abrangente, fornecendo soluções de conformidade, desempenho e interoperabilidade para todos os componentes principais da arquitetura desagregada prevista pelo O-RAN. Isso inclui um emulador de limitação de fronthaul que permite que fornecedores e operadores testem seus equipamentos em uma ampla variedade de condições, assim como um emulador realista de canal. 

A execução de aplicativos Open RAN virtualizados baseados em software pode não ser tão eficiente quanto o processamento em um hardware específico. Embora essa seja de fato uma preocupação legítima, a capacidade dos componentes Open RAN de escalar, aumentar a flexibilidade e reduzir os custos por meio do aumento de competitividade, inovação e volume compensa essa limitação. 

Devido a orçamentos e experiências consideráveis, os OEMs dos setores estabelecidos podem manter uma propriedade intelectual mais avançada ou madura. Embora seja provavelmente uma dúvida precisa neste momento, pode-se esperar que o ecossistema aberto e extenso do Open RAN impulsione a inovação em todo o ecossistema e crie uma propriedade intelectual valiosa. 

Muito tempo de estudo foi dedicado à busca do equilíbrio certo entre os padrões e a inovação para a definição de interfaces. Deve-se observar que o 3GPP definiu várias interfaces, entre as quais X2/Xn, S1/NG, F1 e E1. 

Apesar de todos esses desafios, o Open RAN continua a desempenhar um papel significativo na aceleração da implantação da infraestrutura 5G. Por exemplo, a Dish Network, que se comprometeu a cobrir 70% da população norte-americana até junho de 2023 com sua conexão 5G, recentemente selecionou a tecnologia Open RAN para a implementação da rede 5G nos Estados Unidos. 

 No Japão, a rede 5G da Rakuten também é baseada na arquitetura Open RAN, que permite combinar a tecnologia mais apropriada para os assinantes. Enquanto isso, a Vodafone confirmou os planos de iniciar os testes Open RAN na Europa e na África, previstos para se concentrarem em chamadas móveis e serviços de dados em 2G, 3G e 4G. Esperam-se no futuro testes adicionais da Vodafone com Open RAN envolvendo 5G. 

De nossa perspectiva, as redes sem fio estão em um ponto crucial, com o 5G preparado para fornecer taxas de dados mais altas, suportar mais dispositivos conectados e latências mais baixas. No entanto, as redes 5G também apresentam enormes complexidades para as operadoras. Esperar que uma única empresa ofereça as melhores e mais inovadoras soluções de RAN é simplesmente irreal. Na verdade, na última década, testemunhamos o surgimento e a evolução da nuvem, de redes definidas por software (SDNs) e de software de código aberto. Todos transformaram com sucesso o setor de data center, fornecendo redes escaláveis capazes de criar a capacidade de introdução rápida de novos aplicativos e serviços e reduzir custos. 

Da mesma forma, as redes 5G e abertas serão o catalisador que permitirá às operadoras fornecerem novos aplicativos e serviços de maneira mais eficiente, ao mesmo tempo em que expandem seus respectivos modelos de negócios. O Open RAN tem tudo a ver com acelerar e reduzir os custos de implantação de infraestrutura. Talvez o mais importante seja o potencial de permitir que as operadoras recuperem o controle sobre a oferta de soluções diferenciadas, em vez de depender apenas do mesmo punhado de fornecedores que oferecem plataformas fechadas. Simplificando, a concorrência impulsiona a inovação, novos modelos de negócios e a diminuição de gastos. 

 As arquiteturas de rede, intrinsecamente projetadas para proteger as posições dos fornecedores, permaneceram essencialmente as mesmas por décadas. Embora as operadoras reconheçam que o RAN aberto está em seus estágios iniciais, no longo prazo a arquitetura aberta reduzirá os custos, gerenciará os riscos da cadeia de suprimentos e incentivará a inovação, da mesma forma como a nuvem e o SDN tiveram impacto positivo no segmento de data center. 


*Marcos Takanohashi é vice-presidente de vendas da CommScope para a América Latina e Caribe 

 

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