Os holofotes estão direcionados para os provedores regionais. Trata-se de um setor que vem crescendo independente da crise que atinge o mercado nacional, o que é um bom começo, mas que pode oferecer riscos caso os provedores não saibam aproveitar as oportunidades de forma positiva.
O Brasil é um dos dez países com maior número de pessoas desconectadas, segundo um estudo feito pela unidade de inteligência da revista britânica The Economist. A pesquisa, que foi encomendada pela iniciativa do Facebook Internet.org, revelou que cerca de 70,5 milhões de brasileiros não têm acesso à internet. Portanto, nadar de braçada nesse cenário pode representar um avanço, mas não sem cautela. É preciso olhar globalmente para entender o mercado e fugir de uma visão míope e ilusória do setor.
O Brasil está caminhando rumo ao desenvolvimento e à nacionalização da banda larga. Nesse sentido, uma saída para os ISPs decidirem quais atitudes tomar em um cenário que aparenta ser tão promissor é olhar para países mais avançados nessa área e observar como evoluíram os mercados. Dessa forma, é possível evitar erros e importar boas práticas.
Um bom exemplo é o da indiana Jio, que provocou uma revolução no mercado de provedores no Sul da Ásia. A empresa chegou ao mercado com um posicionamento bastante agressivo, oferecendo serviços como apps de notícias, TV, música, conteúdo e também internet. Em menos de um ano, o uso de dados mobile cresceu nove vezes, quando a Jio utilizou práticas de custo equivalente a 5% do valor utilizado no mercado. Mas o que viabilizou isso? Diversas políticas implementadas pelo governo da Índia para o desenvolvimento do país. Esse é um norte para o crescimento dos provedores brasileiros, que precisam se unir para influenciar as políticas que regem o setor.
Ameaça ou oportunidade?
Como já aconteceu em outros países, a tendência do mercado brasileiro é de consolidação – já estamos vivenciando movimentos de fusão e aquisição, por exemplo. Nos EUA a demanda por velocidade vem crescendo e as grandes operadoras não estão andando na mesma velocidade. A mesma coisa acontece com o nível de atendimento ao usuário, que não atende às expectativas. No Brasil, o cenário é parecido: além do grande público que ainda está offline, os provedores regionais vislumbram os clientes das grandes operadoras, potenciais usuários.
Em 2010, 1,8 bilhão de pessoas estavam conectadas à internet. Em 2017 são 3 bilhões, e, entre 2022 e 2025, a previsão é de que o mundo inteiro esteja online, de acordo com dados do Singularity University Global Summit 2017, evento que trata do futuro dos negócios da tecnologia. Soma-se ainda a este cenário a incrementação das redes, que estão cada vez mais robustas, o aumento da velocidade e a transformação digital, que vem trafegando por este contexto. A internet já é considerada uma necessidade básica do ser humano e, através dela, muitos avanços acontecem. O que os ISPs precisam criar e desenvolver é uma proposta de valor adequada a essa realidade, não basta ofertar apenas uma boa velocidade de banda, é necessário adequar os produtos ao perfil dos consumidores, e, para tanto, é imprescindível conhecê-los verdadeiramente.
Os provedores têm um desafio do tamanho das oportunidades: tornarem-se fortes para conseguir conectar a população offline e melhorar os serviços daquelas que estão insatisfeitas. Para tanto, não basta estar num segmento pujante, é preciso olhar para frente enquanto se executa o presente. Não basta ter dados, é necessário transformá-los em informações preciosas. Não basta ter foco em capilaridade e robustez de infraestrutura de rede, enquanto os usuários querem perceber o valor do serviço prestado. E também não basta investir somente em tecnologia, pois o maior investimento ainda está nas pessoas.
Silvia Foster é CEO da Cianet