O Agro 4.0 já deixou de ser uma questão teórica e está presente na vida, ou na vontade, do produtor rural independentemente do tamanho de suas lavouras. Muitos já sabem que o ritmo de aceleração dessa tecnologia será determinante para garantir maior competitividade internacional, custos menores em todas as fases da cadeia produtiva e ainda uma adequação mais eficiente às exigências do novo consumidor, que está mais preocupado com a procedência dos alimentos.
Nesse caminho, existem ainda dois obstáculos. O primeiro, para aqueles que veem um acervo cada vez maior de soluções sem dominá-las, é saber por onde começar. O segundo esbarra no que é considerado o maior gargalo para uma evolução acelerada desse mercado: a conectividade. Ambos estão na mira de operadoras móveis, fabricantes de equipamentos, desenvolvedores, startups, academia e também do governo.
Sondagem com participantes do AGROtic 2021 — evento realizado de 3 a 6 de maio — pela equipe do Tele.Síntese a pedido da Ericsson, mostra como o gargalo da conectividade é o maior desafio para o produtor rural. A maioria, ou 54,2% dos que responderam à enquete, possui conexão celular só na sede e em alguns pontos de sua fazenda. 22,9%, por sua vez, contam com acesso móvel em toda a propriedade e 12,5% não têm qualquer tipo de conectividade em suas propriedades.
A prioridade dos que acreditam na agricultura digital está voltada para a gestão da propriedade. Esse é o primeiro, e disparado, tema de interesse dos agricultores que querem ter acesso a dados em tempo real sobre o que está acontecendo dentro da porteira. Em segundo lugar nessa escala de prioridades está a utilização de aplicativos ou soluções que gerenciem o uso da terra, seguido de previsão climática — uma questão fundamental para os produtores rurais — do controle de pragas e, por fim, de irrigação inteligente.
No agronegócio, aumenta a oferta de máquinas e equipamentos agrícolas com inteligência e conectividade. Isso abre um leque de oportunidades para a obtenção de informações em tempo real sobre o que está ocorrendo no campo e permite ao produtor fazer ajustes na lavoura, se necessário.
Mas as fazendas estão preparadas para a comunicação entre as máquinas e seus sistemas de gestão? Pela sondagem AGROtic 2021, 62,5% dos que participaram da enquete dizem que não. Mas há bons sinais se considerarmos que 27,1% estão parcialmente conectados e 10,4% já se beneficiam dessa estrutura.
Sistemas avançados já entram na lista de preocupação dos produtores para integrar a operação dentro e fora da porteira. De acordo com o levantamento, a Indústria 4.0, integrando o campo e a produção agroindustrial, desperta bastante interesse.
Para 72,9 % dos que responderam à pesquisa a Indústria 4.0 já faz parte do planejamento de inovação da atividade agrícola. Apenas 27,1% ainda não está preocupada, por enquanto, com esse avanço.
O mesmo interesse foi demonstrado por uma área que une dentro e fora da porteira, a rastreabilidade da produção, de rebanhos e produtos. Essa é uma etapa importante para garantir transparência sobre os procedimentos e tipo de insumos utilizados, que atende ao interesse de importadores e do novo consumidor. Também 72,9% afirmaram que estão planejando incluir ferramentas de rastreabilidade nos próximos dois anos.
IoT, viabilizando o Agro 4.0
O mercado está ávido de inovação e as operadoras e os fornecedores de sistemas de acesso à Internet estão atentos e se esforçando para avançarem nesse aspecto. Muitos produtores relacionam diretamente a tecnologia IoT (Internet das Coisas) à conexão completa entre sensores no campo, equipamentos de irrigação, máquinas, estações metereológicas, plantio e colheita, entre outros itens.
“A chegada das tecnologias IoT, em particular a Narrow band e CAT-M, habilitou as operadoras a endereçarem cobertura a esse mercado, que passa a ser um segmento B2B”, comenta Paulo Bernardocki, diretor de Redes e Tecnologia da Ericsson para o Cone Sul da América Latina.
Ele lembra que há várias operadoras com ofertas voltadas para o mercado agrícola que não dependem mais do número de usuários. Ele ressalta, entretanto, que essa transformação não ocorre de um dia para o outro e grande parte do volume de negócios ainda está voltado para as pessoas. “Mas já temos alta tecnologia embarcada – como drones, colheitadeiras, estações meteorológicas – que nos mostra que há uma demanda latente”, diz.
O diretor da Ericsson acredita que é preciso dar início rapidamente ao processo de transformação digital do agronegócio e considera que a tecnologia 4G, largamente disponível no país, atende praticamente 95% das necessidades desse segmento. O 5G, quando estiver disponível, trará um aprimoramento para as aplicações agroindustriais.
Além de tudo, o ecossistema de NB-IoT e CAT-M já está pronto e tem uma grande capilaridade e oferta de dispositivos. Nesse ecossistema, por exemplo, estão presentes 120 operadoras em 63 países com aplicações NB-IoT e 55 operadoras em 35 países com CAT-M. No combinado das duas tecnologias há, atualmente, 518 tipos de dispositivos.
Com NB-IoT, por exemplo, já estão no mercado 362 dispositivos, sendo que metade são módulos que poderão ser embarcados em máquinas rurais, estações meteorológicas e outras aplicações rurais. “A diversidade é muito grande e temos escala global, o que significa que os custos são baixos e podemos aproveitar no Brasil qualquer inovação feita mundialmente’, ressalta.
Para ele, tudo o que puder ser automatizado para alimentar os bancos de dados que serão tratados na nuvem com inteligência artificial, será automatizado com a ajuda de IoT. “Por isso dizemos que a Internet das Coisas é a quarta revolução industrial e essa plataforma será essencial para o mundo agro”, observa o executivo.
Na sua avaliação, é preciso acelerar essa transformação digital na agropecuária pela expansão da conectividade, um movimento que está hoje na estratégia das operadoras e seus fornecedores.
O AGROtic 2021 foi realizado virtualmente e teve um alcance de 1.800 usuários únicos com 15.475 visualizações de páginas do evento. O perfil dos que acompanharam as lives foi composto por 28% de CEOs, diretores e coordenadores, 27% por analistas, gerentes e consultores, 25% integrantes da comunidade acadêmica, 15% por engenheiros agrônomos e produtores rurais e 5% por profissionais de outras atividades. A Sondagem AGROtic considerou válidas 46 respostas completas daquelas que foram enviadas pelos participantes.
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