A novidade faz todo sentido. Em linha reta, Belém é vizinha a Barcarena. São 14,6 km em linha reta. Pelo leito do rio, são 91 km. Se o cabo de fibra óptica seguir a margem da rodovia, o percurso é muito mais longo: 321 km.
Barcarena é um polo econômico importante. Na região, é beneficiada boa parte da bauxita extraída no município de Paragominas e na área do Tapajós, em Oriximiná. Além disso, a cidade é sede da oitava maior fábrica de alumínio do mundo, a Albrás, de capital norueguês, com a maior parte da produção dedicada à exportação. Também é sede da Alunorte, maior planta mundial de alumina. Por isso, também está ali o porto mais importante do estado, o Porto Vila do Conde.
Da mesma forma que quer conectar Barcarena pelo rio, o planejamento estratégico da SeaTelecom prevê interligar todo o Nordeste do Pará até 2018. Mas por terra. Já foram construídos 250 km de backbone entre Belém e Santa Maria e, até março, serão 650 km, quando atingir Paragominas. O ponto mais distante, previsto para 2018, é Marabá. Então, o backbone estadual da empresa terá 1.220 km.
Para construir a rede, o investimento total será de R$ 6 milhões, sobre cujo retorno os sócios da PrimeSea – a holding que abriga as recém criadas SeaTelecom, SeaEngenharia e SeaSoluções – não têm dúvidas. São três investidores de Castanhal, sede da empresa, todos empresários da área de distribuição (alimentação e perfumaria), um da área financeira e dois da área de TI.
Construir o trecho terrestre não requer competências especiais. O cabo vai nos postes da concessionária local de energia elétrica, a Celpa, que tem sido boa parceira. A não ser pelo preço que cobra por poste: R$ 7,17 por ano, mais que o dobro do preço de referência do acordo Anatel/Aneel (R$ 3,19), que cairá para R$ 5,73 na segunda fase do projeto. De especial, só a cautela dos instaladores com abelhas, que costumam fazer seus ninhos no interior dos postes, ocos. Por isso, têm de subir com equipamentos especiais.
Atrás da demanda
É empreendedor por natureza e necessidade, como esclarece. “Por necessidade, já tinha família constituída e filho, não consegui concluir a universidade”, informa. Faltavam só umas poucas matérias e o TCC. Mas já trabalhava em Castanhal e a universidade ficava em Belém – 65 km de distância. Pouco para as dimensões amazônicas, mas muito no dia a dia do trabalho. Éder abandonou a segunda faculdade. Não reclama. Mas sente-se que faz falta, quando fala em seus projetos de aproximar estudantes e mercado, em fomentar bons projetos universitários, em criar oportunidades para os jovens que estão deixando a universidade.
Por que criar uma empresa de infraestrutura de telecomunicações? Segundo Éder, o investimento da PrimeSea é uma resposta à carência de conexão de internet na região, que está se expandindo. “Há demanda”, diz. E essa demanda será crescente com a expansão dos negócios nas áreas de extração mineral (especialmente alumina e caulim), agroindústria (rebanho, soja, dendê e biodiesel) e comércio.
A SeaTelecom, lançada comercialmente em dezembro de 2016 (a rede começou a ser construída em agosto de 2016), tem como foco clientes corporativos (empresas em geral) e provedores de acesso à internet, aos quais vende capacidade de conexão no atacado. Já começou operando com 12 clientes corporativos (as empresas de seus sócios investidores são suas clientes) e, no final de dezembro, contabilizava dois clientes de capacidade de rede. Seu backbone tem hoje capacidade de 10 Gbps.
De acordo com Éder, todos os clientes privados (empresas) são conectados ao backbone da SeaTelecom por meio de rede Gpon. A conexão dos clientes provedores de internet é feita via link dedicado. “Em nossa configuração de rede usamos roteadores e toda a última milha é na tecnologia Gpon. Quando chegarmos a Marabá, em função do volume de tráfego, vamos passar a usar a tecnologia DWDM”, esclarece.
Uma integradora
A ambição da PrimeSea é ir muito além de um provedor de acesso à internet ou de uma operadora de rede. O objetivo é oferecer ao mercado um portfólio de serviços que começam pela engenharia, passam pela infraestrutura de telecomunicações e terminam em software e aplicativos, ou seja, soluções. “Esse é o nosso conceito”, insiste Éder.
Embora a SeaSoluções ainda não esteja operacional, o grupo já começa a explorar a área de aplicativos com um produto desenvolvido inicialmente pela SeaTelecom para seu próprio consumo. Trata-se de um software para dispositivo móvel que faz levantamento, com geolocalização, de toda a infraestrutura de postes a serem compartilhados. São duas plataformas, uma web e outra móvel, funcionando em conjunto sob uma estrutura de nuvem que armazena todas as informações coletadas pela plataforma móvel, com um algorítmo desenvolvido para tratar, organizar e dispor essas informações coletadas de maneira funcional na plataforma web.
Entre as vantagens do SeaPoint, Éder destaca o fato de ser multiplataforma (pode ser usado em qualquer smartphone), ter interface intuitiva, ser personalizável segundo as informações do cliente, ter precisão mínima de dez metros, gerar automaticamente planilha nos padrões da concessionária de energia elétrica e permitir um levantamento de campo até cinco vezes mais rápido que o usual. O público-alvo deste app são as próprias concessionárias de energia e as operadoras usuárias dos postes.