Na noite de 25 de janeiro de 2017, um raio atingiu a torre de transmissão do provedor Nova Soluções instalada em Caramiri, distrito de Rio Preto da Eva, uma comunidade que fica a 176 km de Manaus. Com a queda da conexão, todos os clientes da empresa na rota que vai até Maués, em direção a Parintins, no Nordeste do Amazonas, ficaram sem internet.
Alertado pelo sistema de gerenciamento da rede, Olisnei Nascimento Conceição, dono da Nova Soluções, teve de acionar dois funcionários e sair de madrugada, de camionete, para fazer o reparo. Se até Itacoatiara a estrada é asfaltada, para chegar à comunidade é preciso vencer 50 km em estrada de terra onde só passa veículo utilitário. Subir na torre à noite, no meio do nada, não é tarefa fácil, tal a quantidade de carapanãs (um tipo de pernilongo capaz de picar através da camiseta). “A luva tem que ser de couro e o técnico tem que estar bem protegido”, resume Olisnei.
Ocorrências como esta fazem parte da rotina dos provedores regionais de acesso à internet e serviços de telecomunicações que decidiram avançar em direção ao interior. Com cerca de 5 mil clientes, dois mil dos quais em Manacapuru, onde desde 2015 começou a instalar uma rede de fibra óptica, a Nova Soluções tem clientes também em Caapiranga. Na rota que vai para Tefé. E atender também a cidade de Maués, em sociedade com um provedor local. Para chegar lá, aluga um link de um concorrente. Mas a ideia é terminar um enlace de rádio que está quase pronto, passando por Itacoatiara e Uricurituba até chegar em Maués.
Para expandir sua operação no interior – ampliar a rede em Manacapuru e montar a rota até Maués – e em Manaus, Olisnei conseguiu, recentemente, um financiamento do Banco da Amazônia (Basa). Desde que entrou nesse mercado, em 2003, com o provedor Econet, depois Nova Soluções, o técnico em informática, que abandonou o curso de Engenharia de Comunicações no sexto período, sempre fez tudo com recursos próprios. Aliás, como a maioria dos empreendedores desse segmento. “Nosso maior problema é a falta de acesso a financiamento”, diz ele, que foi o primeiro presidente da Associação dos Provedores do Amazonas (Apriam), no período 2015 a 2016.
Oportunidade na escassez
Foi na raça que Olisnei descobriu que havia espaço para empreendedorismo no mercado de internet. Como técnico de informática foi chamado para instalar roteadores Cisco em uma terceirizada da Embratel, em Manaus. E descobriu que a operadora não tinha condições de atender a demanda. “Ela vendia pouca banda”, relembra.
Da descoberta ao negócio foi um pulo. Comprou ADSL da Oi e começou a vender internet para pequenas e médias empresas instaladas na Zona Norte de Manaus, onde morava. Seus planos iam de 128 kbps a 512 kbps. Quatorze anos depois, tem uma operação considerada de médio porte, compra capacidade de rede da TIM (1,5 Gbps) e Oi (acaba de fechar mais 1 Gbps), uma rede de fibra ainda pequena (anel de 16 km e rede secundária de 50 km) e seu ticket médio para 1 Mbps é de R$ 99. A maioria dos clientes ainda é atendida por rádio, mas o objetivo é substituir os links de rádio pela fibra onde for viável.
Olisnei decidiu abandonar um certo conforto de trabalhar em Manaus pelos desafios do interior, das cidades do entorno da capital, quando a NET, do grupo América Móvil, começou a cabear a cidade e apostar na banda larga. “Vi que ia aumentar a competição e que não tinha bala para isso”, diz ele. Por isso, resolveu explorar outros mercados, mas sem abandonar Manaus.
Colocou sua marca no interior, também nos distritos: primeiro Cacau Perêra, comunidade de Iranduba e depois Iranduba e Manacapuru. Ao contrário das sedes dos pequenos municípios, cuja economia gira em torno da prefeitura e do comércio, a dos distritos é apoiada na produção local. “As famílias nas comunidades produzem e têm como pagar a conexão da internet”, relata Olisnei, que abandonou a operação em Rio Preto da Eva, a primeira cidade do interior que atendeu, em 2012, quando perdeu a conta da prefeitura. “Não consegui competir com o provedor local, que tem manutenção mais barata”, diz ele.
A experiência não se repetiu em Manacapuru e Caapiranga. Com a troca do prefeito, no início deste ano, a Nova Soluções perdeu a conta de internet da prefeitura e um faturamento de R$ 23 mil. Mas está conseguindo equilibrar a operação com novos clientes empresariais e residenciais. “É a venda porta a porta”, receita Olisnei.
Hoje, Iranduba e Manacapuru forma um polo oleiro, com vários fabricantes de tijolos e telhas; em Manacapuru estão grandes fazendas de criação de peixes (pirarucu, tambaqui e tucunaré) e lá está também a sede do frigorífico Frigopesa. Caramiri e Novo Remanso são produtoras de abacaxi e cupuaçu. É essa economia que alimenta o moinho da banda larga local.
No Comment