Luis Arís*
Em comparação com os últimos meses de 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 1,2% no primeiro trimestre de 2021. Atividades exportadoras como agropecuária e mineração estão por trás dessa boa notícia. Os mercados disputados por esses segmentos são globais e extremamente ágeis, exigindo que as empresas brasileiras estejam continuamente engajadas em programas de inovação digital. Estudo da KPMG divulgado em novembro de 2020 aponta que 84% das empresas do setor de agronegócios investem continuamente na expansão de seus ambientes digitais.
Essa evolução passa, necessariamente, pelo uso da nuvem (privada, pública ou híbrida). Relatório da Nutanix mostra que houve um crescimento de 135% do uso da nuvem no Brasil entre o último trimestre de 2019 e o final de 2020.
A base da nuvem é o data center.
Essa realidade tem levado a uma tremenda expansão do segmento de data centers na América Latina e no Brasil. Estudo de 2020 do instituto de pesquisa Aritzon aponta que, até 2026, o mercado latino-americano de data centers chegará a 780 bilhões de dólares.
O quadro ganha dramaticidade quando se analisa o impacto da pandemia na aceleração dos negócios digitais. Somente o uso do Microsoft Teams, aplicação na nuvem que é parte do Office365, cresceu 3891% entre janeiro e dezembro de 2020 (dado da consultoria brasileira Aternity, de janeiro de 2021). Aumentou muito, também, o acesso a plataformas na nuvem como Zoom, Google Docs, além de transações realizadas em portais de e-Commerce e Internet Banking.
Pesquisa do instituto Uptime divulgada em abril deste ano analisa as respostas de 2000 gestores de data centers de todo o mundo sobre os desafios enfrentados desde o início da pandemia. 44% dos profissionais entrevistados afirmaram que a preocupação com a resiliência de data center e da infraestrutura crítica de TI aumentou entre abril de 2020 e abril de 2021.
Por preocupação, entenda-se o medo do downtime do data center.
Especialmente no caso dos grandes data centers Hyperscale, construídos para suportar as maiores nuvens do planeta (AWS, Azzure, Google e OracleCloud), qualquer indisponibilidade afeta o data center, a nuvem ali abrigada e, acima de tudo, milhares de empresas e pessoas que dependem dessa infraestrutura crítica para trabalhar. O Brasil é um grande centro de sites Hyperscale, data centers que são verdadeiros motores da economia do país.
O downtime é um risco real. Pesquisa do Uptime Institute de 2018 com 900 data centers globais mostra que 31% desse universo experimentou um downtime ou forte degradação de serviços digitais em 2017. O prejuízo é imenso: relatório do Gartner de 2014 indica que cada minuto de downtime custa US$ 5.600 (cerca de 28.000 reais) para o operador do data center. Esse cálculo não inclui as perdas das empresas usuárias deste ambiente. A indisponibilidade derruba as vendas de produtos das empresas baseadas no data center, afetando também o valor de suas marcas. O data center, por seu lado, é duplamente prejudicado: com SLAs que, normalmente, oferecem 100% de disponibilidade de serviços, qualquer falha de energia, gestão da temperatura e banda pode levar a pesadas penalidades.
O data center é formado por dois mundos: a infraestrutura crítica e as soluções de TI implementadas sobre essa base
O data center se divide em dois mundos: a infraestrutura crítica digital e as soluções de TI que serão instaladas sobre essa base. Esses dois universos são projetados e geridos por equipes diferentes, que falam línguas diferentes. Enquanto protocolos como NetFlow, FTP ou WMI são muito usados no mundo de TI, a comunicação da infraestrutura crítica geralmente é baseada em Modbus TCP ou OPC UA. Somente o protocolo SNMP é usado em ambos os mundos. Mas este protocolo de rede segue sendo mais importante para a TI do que para a base do data center.
Ainda assim, é essencial que uma única plataforma de monitoração apresenta o status – medido por limites alinhados com as melhores práticas de gestão do data center – do data center como um todo. A interdependência entre a infraestrutura crítica do data center e as soluções de TI que o ambiente suporta é absoluta. A excelência da gestão exige que se parta desse dashboard inicial para, conforme o caso, ir “explodindo” a análise, utilizando um painel dedicado, por exemplo, para verificar a temperatura e a umidade de servidores, de corredores, de salas inteiras. O superaquecimento ou até mesmo incêndios nos cabos podem causar danos massivos. O quadro fica ainda mais crítico caso ocorram vazamentos nos sistemas de ar-condicionado, com a liberação de água podendo causar curto-circuito ou danificar os equipamentos de TI. Outro dashboard pode, por exemplo, indicar o quanto há de energia armazenada nos UPS do data center, com a possibilidade de soar alarmes quando os limites das baterias estão perto de serem alcançados.
A visibilidade que as melhores plataformas de gerenciamento propiciam não termina aí.
É possível, também, lançar luzes sobre tudo o que se passa nas camadas de software do data center. Isso inclui servidores web (IIS, Apache, NGINX), servidores SQL (Microsoft SQL, Oracle etc.) e servidores de e-mail (Exchange, SMTP, etc.). As aplicações Web rodando no data center também são monitoradas, algo que contribui diretamente para a continuidade dos negócios das empresas usuárias do data center. Até mesmo a agenda de realização de backups de dados e aplicações pode ser controlada pelas plataformas de monitoração.
A soma de todos esses recursos gera uma visão preditiva sobre cada elemento do data center.
Passa a ser possível prever uma falha e agendar a manutenção antes que o problema afete os clientes do data center. Fica mais fácil, também, gerar relatórios sob medida para as métricas de qualidade de experiência (QoE) que são a base do SLA entre data center e seus clientes. Visibilidade e controle contribuem para a otimização contínua do data center, algo essencial para extrair, desse ambiente complexo e caro, o máximo valor.
A monitoração 24×7 do data center é essencial para a sustentabilidade da economia digital. Em 2021, essa gestão tem de ser feita de forma automatizada e a partir das melhores práticas do mercado. O crescimento do PIB do Brasil depende disso.
*Luis Arís é gerente de desenvolvimento de negócios da Paessler LATAM
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