Por William Francini
Temos inúmeras evidências da importância das pequenas e médias empresas na formação do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, assim como na geração de empregos e na massa de salários. Uma das fontes, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), destaca que os pequenos negócios na economia brasileira respondem por 27% do PIB, 52% dos empregos com carteira assinada e 40% dos salários pagos (Sebrae, 2016). Por outro lado, temos ouvido com muita frequência, há vários anos, a palavra inovação. Ela se tornou um mantra na agenda da sociedade.
Parece haver um consenso de que a inovação pode gerar valor em diversas formas – por meio da geração de mais conhecimento, educação, novos produtos e serviços, úteis não somente a consumidores e clientes, mas muitas vezes aos cidadãos e suas comunidades. Claro, perspectivas críticas são sempre importantes, e questionamentos sobre esta ‘onda de inovação’ podem ser bastante interessantes.
A palavra inovação é frequentemente aplicada como uma invenção que foi bem-sucedida comercialmente, isto é, deixou o laboratório ou a bancada e foi colocada no mercado. Em contrapartida, uma invenção pode ter sido gerada, mas nunca ter deixado o laboratório, nem encontrada uma aplicação prática ou viabilidade econômica.
Quanto ao processo de inovação e de desenvolvimento de novos produtos, montantes consideráveis de tempo e dinheiro, dentre outros recursos, são investidos pelas organizações na busca de novas oportunidades, uma vez que tais investimentos aumentam a capacidade de criar, usar conhecimentos novos e recombinar e reutilizar outros existentes. Já o processo criativo está ligado à geração e gestão de ideias.
A correlação entre a gestão de ideias e a geração de novos produtos e serviços é alta no contexto econômico-organizacional. Para tanto, faz-se necessário que o processo de execução da inovação esteja devidamente estruturado, e cuja referência internacional é denominada FEI (Front End of Innovation). É possível resumir os principais processos de inovação em grandes temas centrais, como as estratégias de inovação, o sistema de gestão de ideias, a gestão de portfólio de projetos e a gestão da cultura de inovação.
Outros pilares podem ser considerados, como inteligência tecnológica e incentivos legais para a inovação. A importância de métricas de desempenho com vistas ao mapeamento do nível de maturidade da inovação nas organizações torna-se mais evidente. E o radar da inovação constitui uma das ferramentas disponíveis para esta função.
Estas são algumas das variáveis ligadas ao processo de gestão da inovação. E quanto a realidade da inovação nas PMEs? Aqui não estamos considerando somente as empresas iniciantes, com base tecnológica, mas as milhares de PMEs em operação no mercado. Sabidamente este grupo de empresas tem maior dificuldade em obter crédito, taxas de juros mais competitivas, e acesso a instituições de fomento e órgãos do governo – no caso, a projetos com vistas na melhoria da competitividade empresarial.
Neste sentido, mencionamos alguns dos instrumentos de apoio à inovação em âmbito nacional, que em tese devem estar à disposição, inclusive às pequenas empresas. Seguem alguns exemplos, citados no guia de apoio à inovação, da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei). O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e suas linhas, como a Capital Inovador (foco na empresa), Inovação Tecnológica (foco no projeto), Cartão BNDES para Inovação, e Programas específicos setoriais, tais como Profarma, Prosoft, Funtell e Proengenharia.
Ainda dentre os instrumentos de apoio financeiro existem as linhas de incentivo fiscal – como incentivos fiscais para P&D em qualquer setor industrial (Lei do Bem, capítulo III), e incentivos para P&D no setor de informática e automação (Lei 11.077/2004), assim como linhas de Capital de Risco, além dos fundos privados de capital de risco. Existem ainda outras linhas, como o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte.
Ainda como instrumentos de apoio à inovação, existem os Instrumentos de Apoio Tecnológico e Gerencial, dentre os quais destacamos aqueles ligados ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), como os Fundos Setoriais, Portal Inovação, Sistema Brasileiro de Tecnologia (Sibratec), Sistema Brasileiro de Resposta Técnicas (SBRT) e Programa Nacional de Incubadoras (PNI), e aqueles ligados à Finep, como seus programas de Cooperação entre ICTs e Empresas, Apoio à Pesquisa e Inovação em Arranjos Produtivos Locais (PPI-APLs) e Projeto Inovar.
O Sebrae conta também com o SebraeTec, o Programa Agentes Locais de Inovação (ALI), Programa Sebrae de Incubadoras de Empresas e Programa Alavancagem Tecnológica (PAT). Finalizando, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) oferece o Programa Senai de Inovação Tecnológica, o Instituto Euvaldo Lodi (IEL) promove programas focados em informação e consultoria para negócios, propriedade intelectual na indústria e capacitação em gestão e estratégias de inovação para empresas de pequeno porte.
Por último, temos o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), que gerencia o processo de patenteamento no país. Como vemos, sobram linhas de apoio à inovação no Brasil. Por que o avanço tecnológico e a inovação nas pequenas empresas ainda parecem estar em níveis modestos, vis-à-vis tantas linhas e programas com este enfoque?
Willian Francini é coordenador do curso de Administração da FEI – campus São Paulo
Artigo publicado originalmente no portal da FEI