Por Iracema Bonomini, Monique Carleti, Wheberth Dias
A União Internacional de Telecomunicações (ITU, na sigla em inglês) estimou que, ao final de 2016, 53% da população mundial não teria acesso à internet. Apesar dos esforços governamentais e empresariais em expandir seus serviços e número de clientes, o crescimento da população mundial supera o aumento dos pontos de conexão. Nesse cenário, a utilização do satélite como um meio de acesso à banda larga pode ser decisiva.
Com os investimentos no setor, espera-se a redução no preço e a consequente popularização da tecnologia de banda larga via satélite nos próximos anos. As áreas que mais se beneficiarão são as periféricas às grandes cidades e as isoladas ou de difícil acesso e baixa densidade populacional, uma vez que a oferta de internet por outros meios inexiste ou o serviço apresenta baixa qualidade.
No Brasil, em março de 2017, havia 27.165.576 acessos banda larga segundo a Anatel, o que equivale a cerca de 40% dos domicílios disporem de conexão à internet. Nas regiões Norte e Nordeste, esse percentual é mais crítico, com apenas 19,3% e 17,9% das habitações, respectivamente, conectadas por banda larga fixa. O aumento do número de conexões nessas áreas está atrelado aos desafios técnicos e econômicos impostos à expansão do backhaul óptico. As condições adversas da região Norte, como baixa densidade populacional, grandes distâncias entre localidades, condições climáticas, entre outras, dificultam a implantação de redes terrestres, tornando o satélite uma solução atrativa para a oferta de acesso banda larga.
Também em março deste ano apenas 69.596 acessos banda larga do Brasil eram por satélite, o que corresponde a uma parcela menor que 0,3% do total. Este fato deve-se, principalmente, ao elevado custo da conexão, realizada geralmente em Banda C ou Ku. Devido à ocupação do espectro de frequências em Banda C e à crescente demanda por maior capacidade de transmissão de dados, as Bandas Ku e, mais recentemente, Ka passaram a ser opções atrativas para esses serviços.
A utilização da banda Ka facilitou o desenvolvimento dos satélites HTS (High Throughput Satellites), cuja capacidade de tráfego é da ordem de 10 a 40 vezes a dos satélites convencionais. Esse aumento é possível graças ao reuso das frequências utilizadas por esse tipo de satélite de maneira análoga ao que acontece nas redes celulares e se traduz em redução do custo da capacidade a ser comercializada. Os atuais satélites HTS suportam taxas de centenas de gigabits por segundo, possibilitando o atendimento a centenas de milhares de usuários.
O Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações da Telebras (SGDC), lançado em maio deste ano, é um HTS com capacidade de 56 Gbps e promete ampliar o acesso à internet banda larga no país. Com alcance inclusive às regiões mais remotas, deverá facilitar o desenvolvimento econômico e social dessas localidades.
Nos últimos anos, além da Telebras, controladora do SGDC, diversas empresas adquiriram o direito de posições orbitais controladas pelo país com o objetivo de ofertar serviços de banda larga por satélite ou alugar capacidade para esse fim. Algumas empresas já têm satélites em órbita com capacidade para operar na Banda Ka e espera-se que a oferta desse tipo de serviço seja ampliada nos próximos anos, reduzindo assim o custo para o usuário final.
Além dos satélites geoestacionários, como o SGDC, nota-se uma forte tendência à implantação de constelações de satélites de orbitas média e baixa. Diversas empresas entrantes no mercado aeroespacial, como O3b, OneWeb, LeoSat e SpaceX, têm planos ousados para implementação de redes de satélite de média e baixa órbitas, com o objetivo de conectar os lugares mais remotos do planeta, proporcionando o acesso à informação e, como consequência, desenvolvimento.
Uma das vantagens na utilização de satélites em órbitas não geoestacionárias é a diminuição da latência, decorrente do tempo de propagação do sinal entre a Terra e o satélite. No entanto, para a cobertura contínua de uma determinada região são necessárias dezenas ou mesmo centenas de satélites, conforme a órbita utilizada, aumentando consideravelmente o custo de implantação e operação dessas redes.
Iracema Bonomini, Monique Carleti e Wheberth Dias são pesquisadores do Centro de Referência em Radiocomunicações do Inatel (Santa Rita do Sapucaí-MG), criado com o apoio do MCTIC, para pesquisa e desenvolvimento em comunicações móveis de 5ª geração (5G), comunicações via satélite, acesso banda larga sem fio e radiocomunicação ponto a ponto de longo alcance e grande capacidade.
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