O potencial de crescimento do mercado de banda larga fixa no Brasil é gigantesco, com possibilidade de 73 milhões de novos acessos urbanos nos próximos 5 a 10 anos, o que faz dos ISPs, que já têm fibra perto de muitas residências, alvos potenciais de fundos de infraestrutura, que têm, por sua vez, muitos recursos captados e estão prontos para investir. A avaliação é do consultor Rodrigo Leite, que abriu, nesta quarta-feira, 25, o INOVATic 2020, promovido Pelo Tele.Síntese em parceria com o PontoISP.
Segundo Leite, a estimativa é de que existam 80 milhões de imóveis no país, contando com os de temporada, os não residenciais e os não ocupados, e a empresa líder em home passed é a Telefônica, que deve fechar o ano com fibra em 14 milhões de domicílios; seguida da Oi, com 9 milhões; a TIM, com 3,5 milhões e a Claro, com 2,5 milhões. “Mas esses números são pequenos perante os 80 milhões de domicílios, o que indica que estamos só no início e que existe uma corrida para a liderança”, afirma.
Com relação aos números totais de acessos, Leite estima que existem 15 milhões que não estão na conta do sistema da Anatel, que indica 35,3 milhões, sendo 13 milhões providos pelos ISPs. Desses, acredita que 18 milhões sejam de acessos de FTTH de boa qualidade, dentro e fora do sistema da Anatel e a maioria pertence às telcos, mas nem tudo. “Comparando isso com 80 milhões de imóveis urbanos, vemos que ainda há muito para crescer, contando apenas com o primeiro acesso”, disse. Para acessos backup (segundo ou terceiro acessos), a estimativa é de mais 5 milhões de novas ligações. “É um mercado com capacidade de alocação de até R$ 100 bilhões”, avalia.
– Em 2020, exatamente por causa desse tamanho de oportunidades, começaram a surgir notícias um pouco diferentes. Telefônica buscando fundos de investimento para bancar ampliação de FTTH, a TIM pretendendo expandir a internet fixa com rede neutra, a Oi, falando com investidores globais sobre a InfraCo”, afirma Leite. Segundo ele, a Telefônica informa que até o começo de 2021 já escolheu o parceiro.
Leite afirma que essas movimentações se devem às oportunidades abertas pelas big telcos, que geraram bastante interesse de dezenas de fundos de infraestrutura. “O recado agora é que fibra é utility, igual a água, esgoto, eletricidade. É uma oportunidade de fato de oferta de infraestrutura, que normalmente é feita por empresas muito grandes”, disse. Para ele, a própria pandemia expôs ineficiências bastantes significativas, principalmente dos acessos não fibra. “Aqui no Brasil, como a gente tem bastante fibra por conta dos provedores regionais e também das telcos, que estão crescendo muito rapidamente, ficou claro que se não é fibra o acesso, haverá problemas para a infraestrutura digital”, ressalta.
Leite afirma que os fundos pensam que essa oportunidade de fibrar o país pertence a eles. Mas quem são “eles”? O consultor disse que existem mais de três mil fundos de investimentos no mundo. Entre os 15 maiores, 10 deles investem em fibra óptica e eles captaram muito dinheiro nos últimos 5 anos, recursos que ainda não foram investidos.
Arranjos
Leite citou os arranjos que têm relevância no marcado de banda larga do Brasil. O primeiro deles é formado por empresas que se financiam com capital próprio dos fundadores, que se financiam com a informalidade, operação legada de rádio e o sucesso comercial. Fundos de private equity, fusões de iguais levam para um patamar superior, o M&A, ou uma compra de um ISP menor por um maior. “Esses maiores vão ter que levantar dinheiro, não dá para depender única e exclusivamente do próprio capital. Os bancos começam a emprestar mais pesado para essas empresas, a partir de 50 mil acessos”, disse.
O consultor afirma que esses ISPs maiores conseguem fazer uma rodada com fundos de private equity. “Hoje, consegue-se imaginar que 30 ISPs tem essa função de consolidadores”, disse. Mas ressalta que esse é só um passo intermediário, pois há empresas que estão no mercado de capitais, que já fizeram oferta pública há muito tempo e estão se financiando por meio do que se chama de equitys públicos, como debêntures, que são negociadas de forma pública, como é o caso das telcos.
O último passo, salienta o consultor, é onde estão os fundos de infraestrutura, os de longo prazo, e essa é a diferença os fundos de infra para os de private equity, que normalmente saem do investimento em poucos anos. “Para se chegar a esse patamar, ou esses fundos compram a empresa inteira ou compram pedaço da companhia, como é o modelo da Oi, da Vivo e da TIM”, disse. Leite acrescentou que as franquias são outro caminho, que alavancam marcas.
Para o executivo, a consolidação desse setor ao redor dos grandes fundos de infra é inexorável e está acontecendo. Ele acredita que a janela não é de apenas dois anos, mas estima que essa tendência dure por 20 anos e a acredita que os ISPs estão do lado certo do dinheiro. “É preciso trabalhar nesse sprint final bastante focado, para que atinjam seus melhores momentos na hora de fazer a transação e honrar o trabalho de décadas para montar os seus patrimônios”, concluiu.
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