E por que isso vai acontecer? De acordo com o analista, porque é natural que a empresa termine migrando para as mãos de quem consegue extrair dela maior valor; porque os fundos, especialmente de infraestrutura, têm um custo de capital mais baixo e conseguem pagar mais pelo ativo, seduzindo o vendedor; porque os investidores conseguem ter ganho de escala. Quando vai acontecer? Segundo o sócio da Advisia, que tem vários clientes na área de telecom, não é fácil prever. Mas ele acredita que o movimento vai começar pelos provedores maiores no segmento B2B. Nesse segmento, Investec e Axion compraram a Americanet, o primeiro movimento; o fundo Pátria comprou cinco provedores consolidados na Vogel Telecom; e a Acon Investimentos comprou duas empresas regionais de cabo — Cabo Telecom, de Natal, e Forte Multiplay, de Fortaleza —, mas a partir dai passou a lançar fibra.
O movimento de consolidação, com a chegada firme do capital financeiro, ainda não aconteceu, na avaliação de Leite, também por uma razão tributária. “Vale mais a pena a empresa não crescer e continuar na mão da primeira geração para se manter dentro do Simples pagando menos tributos”, lembrou ele. Nesse regime, o retorno sobre o investimento gira em torno de 70%, podendo chegar a 100%, quando em outro regime tributário cai pela metade. Há ainda, mencionou, a questão da tributação pelo ICMS, pago por todas as grandes operadoras, versus a tributação pelo ISS, paga pelos provedores, observou.
Falta maturidade
Se os fundos de private equity só agora começam a cortejar os provedores regionais, os movimentos de fusões e aquisições entre eles são antigos. Especializado em fusões e aquisições de pequenas e médias empresas no segmento de TI e telecom, o Biancamano Advogados Associados realiza de três a quatro operações por mês, de vários tipos e portes.
Com base em sua experiência, a advogada Roberta Dias, do Biancamano, divide as operações em três tipos: de empresas pequenas, que faturam até R$ 500 mil/mês, onde o comprador está interessado no ativo (rede e carteira de clientes) e não no CNPJ; de empresas de médio porte, entre R$ 500 mil e R$ 2 milhões de faturamento/mês, onde já se exige avaliação baseada em fluxo de caixa descontado; auditoria jurídica, financeira e contábil; equipe profissional; e empresas de grande porte, com faturamento mensal de R$ 5 milhões, objeto de interesse de fundos e grandes operadoras. Aí de exige due dillinge e elevado nível de governça corporativa.
Na visão de Roberta, que participou do debate ontem, 9, a maioria dos negócios, mesmo envolvendo compra de pequena empresa, não acontece por falta de maturidade do empresário. “Ele não sabe valorizar adequadamente o seu negócio”, diz ela. Outro ponto que chama sua atenção é a falta de governança, de informações confiáveis. “As empresas têm graves problemas de contabilidade”, aponta ela, que sugere também os provedores que qualificam seus cargos de comando e adotem sistemas de gestão empresarial.