Por Antonio Carlos Wulf Pereira de Melo *
O Brasil enfrenta uma ameaça silenciosa que compromete a infraestrutura digital do nosso país e afeta a vida de todos que utilizam serviços de internet: o furto e roubo de cabos. De acordo com dados da Conexis Brasil Digital (entidade que reúne as principais operadoras no país), mais de 5,4 milhões de metros de cabos de telecomunicações foram roubados e/ou furtados em todo o país no ano passado, causando um prejuízo direto para mais de 7,6 milhões de pessoas.
A Conexis afirma ainda que São Paulo é o estado que mais sofre com esse tipo de problema no país, seguido do Paraná. No entanto, segundo a entidade, as instituições paranaenses adotaram medidas públicas que refletiram na queda do volume de cabos roubados: em 2023, foram 955.178 metros, 6% a menos do que em 2022.
Além disso, de acordo com a secretaria da Segurança Pública do Paraná, no comparativo entre janeiro e março de 2023, ante igual período deste ano, houve uma redução de 31% nas ocorrências de furtos de cabos e de 54% de roubos. Nesse período em 2024, segundo a pasta, foram registrados mais de 2.600 furtos e 10 roubos no estado.
Apesar das ações implementadas para combater o problema, o que deve ficar claro é que o furto de cabos não é um incômodo passageiro, mas um crime de impactos profundos e duradouros, com malefícios que vão muito além das perdas materiais de empresas e instituições. Um dos efeitos mais visíveis é a desestabilização dos serviços essenciais, incluindo telefonia, internet e TV por assinatura. Interrupções frequentes nesses serviços afetam diretamente a comunicação em diversos setores, o acesso à informação, a educação e ao entretenimento. Isso sem falar no impacto ao sistema de saúde, indústrias, comércio, supermercados e demais serviços essenciais.
Além disso, sistemas de utilidade pública, de mobilidade urbana e de segurança também ficam comprometidos. Com os semáforos desligados, o risco de acidente no trânsito aumenta; com os sistemas de monitoramento instáveis, identificar e alertar mudanças climáticas se torna uma tarefa mais difícil. Nos hospitais, sistemas de comunicação desativados podem afetar o atendimento médico de emergência, colocando vidas em risco.
Outro aspecto preocupante é o custo financeiro que recai sobre todos. Embora a fibra óptica não tenha valor comercial, as empresas de telecomunicações enfrentam perdas substanciais. Isso pode resultar em aumentos nas tarifas e na diminuição dos investimentos em infraestrutura, o que afetaria o acesso e a qualidade dos serviços que todos nós utilizamos. Ademais, o desenvolvimento regional também acaba sendo prejudicado, uma vez que as empresas evitam investir em áreas afetadas pelo alto índice de furto de cabos, seja de cobre ou fibra, dificultando também a conectividade em áreas rurais ou menos desenvolvidas.
Para combater esse problema, é crucial que empresas prestadoras de serviços de telecomunicações, autoridades e a própria sociedade se unam para agir de maneira coordenada. A conscientização pública é fundamental para que o ecossistema se prepare com a intensificação da segurança das instalações, enquanto cria legislações mais rígidas para punir os criminosos. Em última análise, mais do que reconhecer a gravidade e os malefícios do furto de cabos, é essencial incentivar a reciclagem responsável do cobre, tornando-o menos atraente para quem não se preocupa com o bem-estar coletivo. Assim, vamos poder trabalhar juntos para proteger nossas redes de comunicação e garantir um futuro mais seguro, digital e conectado para o Paraná e todo o Brasil.
*Antonio Carlos Wulf Pereira de Melo é diretor de Engenharia e Operações da Ligga
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