Rafael Garrido*
O Brasil conta com 5570 municípios. Em março de 2020, 98,2% dessas localidades já possuíam acesso à Internet fixa via fibra ótica. Desse total, 48,7% da infraestrutura de fibra ótica foi implementada por ISPs (Internet Services Providers), também chamados PPPs (Prestadoras de Telecomunicações de Pequeno Porte) pela Anatel, a Agência Nacional de Telecomunicações.
Pesquisa da Anatel de agosto de 2020 indica que 33% de todo tráfego de Internet fixa no país vem de ISPs, ultrapassando as grandes operadoras de Telecom. Há ISPs de portes variados atuando tanto no interior do país e em áreas rurais como, também, em zonas urbanas com maior densidade populacional. As grandes áreas urbanas do Brasil contam com regiões de sombra, onde falta Internet de qualidade, baseada em fibra ótica e com um atendimento personalizado ao usuário. Isso abre oportunidades para ISPs em bairros de grandes centros como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília e, também, nas cidades ao redor desses grandes centros (caso de Guarulhos, Osasco e Barueri/Alphaville).
Em plena crise, os ISPs brasileiros conquistaram 250 mil novos clientes em junho de 2020. É um segmento da economia que está em expansão de negócios, consolidação em grupos e rápida capitalização. Acima de tudo, os ISPs estão se preparando para fazer da rede 5G um trampolim para conquistarem ainda mais espaço. De acordo com a proposta de edital de 5G que foi submetida à consulta pública – uma concorrência aberta a todo tipo de operadora de comunicações pelo governo federal brasileiro – , os ISPs poderão participar na frequência de 3,5 GHz: 2 blocos de 100 MHz e um de 80 MHz nacionais. Esse segmento tem acesso garantido, também, a 2 blocos de 60 MHz regionalizados, sendo um deles exclusivos para os ISPs.
Enquanto o 5G não vem e a economia digital brasileira segue sendo baseada em redes 4G e 3G, os ISPs saem na frente na corrida pela entrega de redes mais velozes a pessoas físicas e a empresas. Já há, no Brasil, ISPs que oferecem banda larga na faixa do 1 Gb/s. Isso é feito com simetria de banda, ou seja, velocidades idênticas de upload e download. Esses provedores somam, ao uso massivo de fibra ótica espalhada por todo o Brasil, ambientes de Edge Computing baseados em data centers pré-fabricados de portes variados. Para diminuir a latência, o Edge Computing coloca o processamento nos extremos da rede, fora dos grandes data centers hyperscale e nós principais.
Nos data centers pré-fabricados utilizados pelos ISPs, a infraestrutura crítica é desenhada e gerida para suportar os negócios digitais de empresas de todas as verticais e de todos os municípios brasileiros. A soma da rede em fibra ótica com data centers TIER-Ready III (classificação e selo de qualidade do instituto UpTime) implementados em topologia de Edge Computing cria sólidos diferenciais de negócios para os ISPs. Com o Edge Computing, mais do que vender links, os ISPs passam a vender a continuidade de negócios.
Graças a isso, um novo horizonte está se abrindo para os ISPs. Há, por exemplo, ISPs especializados em suportar demandas de processamento de dados de indústrias específicas. É o caso de software houses regionais que, com o apoio de ISPs locais, passam a vender suas ofertas no formato SaaS (Software as a Service). Educação é outra vertical no radar dos ISPs. O crescimento da experiência educacional digital está levando universidades e colégios a contratar serviços de processamento de dados de ISPs. Há no Brasil, também, ISPs com um modelo de negócios mais focado no segmento consumer. Nesse caso, o ISP vende serviços que aceleram e melhoram a UX oferecida por serviços de streaming como Netflix e Amazon Prime. Em todos os casos, o SLA entregue aos seus clientes pelo player que é simultaneamente ISP e data center é crítico para o sucesso dos negócios do ISP.
Essa revolução está acontecendo aqui e agora. Alvo preferencial de investidores brasileiros, os ISPs ganharam musculatura para se consolidar em grupos – há players com unidades em vários estados – investir em expansões físicas, de pessoal e também na diversificação de seus negócios. Já existem no mercado ISPs que oferecem, em seus data centers, serviços de Colocation. É uma evolução da oferta de links em fibra para a oferta de serviços com mais valor agregado. Muitos desses players atendem o segmento PME, além de outros ISPs.
Seja utilizando seu data center para oferecer serviços de Colocation, seja usando essa infraestrutura como a base de sua oferta de serviços digitais, o gestor do ISP tem buscado a excelência em infraestrutura crítica.
O data center pré-fabricado inclui racks, soluções de distribuição de energia, refrigeração, cabeamento, supressão de fogo, recursos para monitoramento e controles de acesso e segurança. O desenvolvimento no Brasil de módulos pré-fabricados de alta qualidade inclui serviços de gerenciamento de projetos, uma extensa fase de testes e a logística de envio dos módulos até o ambiente do cliente, onde quer que o ISPs esteja localizado. Já há no mercado, também, plataformas de gerenciamento dessa infraestrutura sob medida para o porte e os orçamentos dos ISPs.
Vale destacar, ainda, a existência de linhas de financiamento para facilitar o acesso dos ISPs a essa infraestrutura crítica. Essas ofertas de financiamento para aquisição de data centers são uma iniciativa de distribuidores que atuam no ecossistema de canais brasileiro. São empresas que oferecem a possibilidade de adquirir o novo data center pagando por isso em prestações mensais, o que representa uma forte alavanca de renovação dos ISPs. É comum que, logo após terminar de pagar o data center modular pré-fabricado, o gestor do ISP realize o upgrade dessa infraestrutura crítica e contrate um novo financiamento junto ao distribuidor para suportar esse avanço. O resultado dessa estratégia é a crescente disseminação de ofertas de data centers em modelo IaaS (Infrastructure as a Service) no mercado brasileiro.
Esse contexto acelera a profissionalização dos ISPs brasileiros, que passam a contar com uma infraestrutura crítica classe mundial com todos os benefícios de um data center tradicional.
A chegada do Edge Computing e do 5G ao nosso mercado está levando os ISPs a renovarem seus ambientes digitais sem deixar de lado os valores que explicam seu sucesso. É o caso do contínuo investimento em fibra ótica nas regiões onde atuam. Outro destaque é a flexibilidade da oferta dos ISPs, em que uma generosa banda de rede faz com que, via Internet, usufrua-se de serviços que, em outros segmentos do mercado, exige-se a contratação de combos de TV, Internet e telefonia fixa. Um importante diferencial é a excelência no atendimento ao cliente. Muitos ISPs mantém lojas físicas que, além de vender serviços, recebem usuários com dúvidas ou com problemas técnicos. São pessoas atendendo pessoas e resolvendo desafios de forma instântanea. O profissional do ISP conhece seu cliente pelo nome.
Todo esse quadro explica o sucesso dos ISPs brasileiros, um ecossistema único no mundo e que, com o 5G e o Edge Computing, avança com firmeza em direção ao futuro.
*Rafael Garrido é Vice-presidente da Vertiv LATAM e Country Manager da Vertiv Brasil.
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