Ponto ISP

Empresas inovam para superar inadimplência

As operadoras competitivas de telecomunicações estão usando medidas criativas para lidar com a inadimplência, especialmente no setor B2B, durante a crise causada pela pandemia de covid-19. A ideia é manter na base de clientes aqueles cujos contratos voltarão a ser rentáveis no futuro, dando-lhes a oportunidade de recuperação.

Mob Telecom e Wirelink Telecom são dois dos casos de empresas que elaboraram planos alternativos para não desligar da base aqueles que tiveram de deixar de pagar em função das circunstâncias atuais. Seus executivos participaram hoje, 29, de mais um episódio das lives do Tele.Síntese, com temática sobre o relacionamento digital, e contaram como cada abordagem funcionou.

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Sayde Bayde, CCO da operadora cearense Mob Telecom, explicou que a inadimplência foi mais sentida no segmento corporativo do que no varejo. Desde o início da crise sanitária a operadora criou um comitê para analisar e planejar os próximos passos da empresa. Na caso de pedidos de renegociação de contratos, ficou determinado que em vez de descontos, seriam feitas permutas.

“No mercado B2B/B2G, que reúne corporativo e governo, foi onde vimos muitas solicitações de desconto. Grandes empresas, grandes comércios que precisaram, solicitaram desconto. Então criamos uma política de permutar. Chegava um hotel e queria desconto, a gente não dava o desconto, mas pedia 10 quartos. Chegou uma empresa de ônibus que pediu desconto, e fez transporte pra gente. Teve uma empresa de lingerie que fez máscara para a Mob”, afirmou o executivo.

Setores mais atingidos…

Vanderson Santana, diretor comercial da Wirelink Telecom, contou que alguns setores foram mais afetados pela crise econômica derivada da pandemia. O setor corporativo do grupo teve mais pedidos de revisão do que o residencial, por exemplo. O varejo, com o fechamento compulsório de lojas, e o turismo, com o isolamento social, enfrentaram muito mais problemas no começo da crise. E empresas dessas áreas se voltaram aos fornecedores, incluindo os de telecomunicações, em busca de revisões contratuais.

“Esse é um tema crítico. A gente criou um comitê de negociação visando controlar a inadimplência, analisando caso a caso, item a item, os contratos para cada uma das solicitações. A questão continua latente, e seguimos acompanhando de perto cada caso”, contou o executivo.

Depois de criado o comitê de negociação, a Wirelink decidiu analisar como a crise afetou o setor da empresa que solicitava renegociação. “Postergamos muita coisa, mas em alguns casos, o que faltava era um alinhamento por parte do cliente para entender que telecom é um dos últimos pontos a ser limitado numa empresa porque é uma ferramenta de sobrevivência, de expansão de receitas”, lembrou.

João Moura, presidente executivo da TelComp, associação das operadoras competitivas, concorda. Segundo ele, a pandemia forçou a digitalização de quem resistia à ideia. “Vários segmentos de comércio que eram arredios ao comércio online, que tinha certo preconceito de ir fundo no comércio eletrônico, de repente perceberam que é uma situação ‘ou vou, ou eu morro’. E aí veio demanda intensa por CDN, sistemas de pagamento, segurança, para que o canal digital comece a funcionar. Esse tipo de mudança veio para ficar”, vaticinou.

…e os menos atingidos

Se por um lado setores que dependem do atendimento direto pessoal, como turismo e varejo, tiveram retração, por outro houve alta da demanda naqueles que abrem as portas para a internet. Tanto para a Mob, quanto para a Wirelink, o atacado ficou ‘bem, obrigado’, nesta crise.

Houve crescimento da demanda por conectividade por parte do consumidor final que se confinou em casa. Isso alterou o perfil do tráfego da rede, obrigou ISPs e operadoras a ampliar a capacidade das redes de acesso. Ao mesmo tempo, serviços corporativos em nuvem passaram a demandar uma conexão mais robusta.

“Tivemos provedores de internet, ISPs, que pediram mais capacidade de rede. Temos clientes OTT que estão consumindo uma banda 10x mais alta do que antes da pandemia”, disse Bayde, da Mob Telecom. Ele contou que o aumento do tráfego da rede de transporte foi de 40% a 50%, dependendo da cidade analisada.

Santana, da Wirelink, vivenciou a mesma situação. “Até o momento a gente mantem as previsões de receita que tínhamos feito para a empresa no ano, mas por segmentos diferentes. A gente precisou ajustar internamente as previsões. Por exemplo, atacado cresceu muito mais que o mercado corporativo, que os mercados mais dependentes do presencial”, contou.

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