Algo estranho acontece no mercado de banda larga no país. Neste ano, o número de acessos oscila entre a estagnação e o crescimento tímido. Dados da Anatel apontavam 41,8 milhões de conexões fixas ativas no país em abril, 100 mil a menos que o registrado em janeiro e 400 mil abaixo do mês anterior. Em julho, foram contabilizados 42,8 milhões, apenas 0,1% acima de junho. Embora parte desses resultados fosse atribuído ao não cumprimento de prazos pelos ISPs para o envio de informações à agência – uma obrigação básica dos que prestam Serviço de Comunicação Multimídia –, as revisões periódicas acabavam por sinalizar que, depois de um longo período crescendo na casa dos 20% ao ano, o mercado de Internet rápida no país havia atingido seu teto. Embora alguns defendam esse diagnóstico, ele não se sustenta.
A demanda por banda larga permanece em níveis significativos, principalmente nas áreas de atuação dos ISPs. Conforme a pesquisa Fronteiras da Inclusão Digital, coordenada por Cetic.br/Nic.br, Programa de Acesso Digital da Embaixada Britânica e Anatel, apenas 66% da população de municípios com até 20 mil habitantes possui acesso à Internet, contra 79% nos grandes centros.
O fator renda é um impedimento para a expansão da do mercado de banda larga rápida, com obstáculos como, por exemplo, a ausência de computadores nas casas. Ocorre que, mesmo entre os que têm menor poder aquisitivo, há um público expressivamente grande que dispõe de meios para se conectar. Há 242 milhões de smartphones em operação no país. Não por acaso, os celulares inteligentes são usados para o acesso à Web em 99,5% dos domicílios brasileiros, conforme a TIC Pnad Contínua, divulgada pelo IBGE em setembro. E, ainda segundo o estudo, mesmo a partir dos smartphones, as conexões passaram a ser, entre 2019 e 2021, majoritariamente, fixas.
Se os equipamentos para acesso estão disponíveis, talvez os preços dos pacotes sejam a razão para que muitos não disponham de conexão. Sendo que a inflação deste ano se concentrou nos preços dos alimentos – principal destino da renda entre as classes mais baixas –, poderia haver, entre um grande número de pessoas, falta de condições para a contratação de serviços, mesmo os essenciais, como é o acesso à Internet. Mas os provedores regionais cobram valores muito menores que as grandes teles. Portanto, embora a renda per capita em suas áreas de atuação seja inferior que a observada em metrópoles, os provedores regionais ainda têm muitos clientes a conquistar.
Se há demanda, a estagnação do mercado de banda larga no país talvez se deva à falta de divulgação de seus benefícios. Embora essa ação pareça desnecessária, o potencial de crescimento da base de clientes concentra-se entre um público que, sem ter o hábito ou até a experiência de acessar a Web, talvez desconheça os ganhos que a navegação podem lhe proporcionar. Dentre tantos outros atrativos que poderiam aumentar a demanda por Internet rápida, há o acesso a serviços públicos, essenciais principalmente entre os que não dispõem de conexão.
E estes estão disponíveis na Web. Cerca de 94% das prefeituras do país dispõem de acesso rápido a banda larga via cabo de fibra óptica, ante 73% dois anos antes, conforme a pesquisa TIC Governo Eletrônico 2021, realizada TIC.br e Cetic.br. Constata o estudo que, acompanhando essa expansão, cresceu também a oferta de serviços municipais na Internet – tais como agendamento de consultas médicas, realização de matrículas escolares, emissão de documentos e faturas de tributos, dentre outros. Além disso, a partir da pandemia, boa parte das atividades escolares, mesmo na rede pública, passou a ser disponibilizada na Web.
Outro benefício do acesso à Internet que pode, ao ser divulgado, aumentar o número de usuários no mercado de banda larga são as transações financeiras, como o PIX que, além da realização de pagamentos e transferências de forma instantânea e gratuita, serve, cada vez mais, para a obtenção de dinheiro vivo. Segundo o Banco Central, o PIX Saque, criado em janeiro e que possibilita a realização de saques em lojas fixas, contabilizou 268 mil transações em julho, 20% mais que no mês anterior.
Há, portanto, uma enorme carência por banda larga no país. Então, por que ela estagnou? Em parte, por causa das características dos ISPs. A expansão territorial da banda larga promovida por essas empresas deu-se com a oferta do serviço em regiões não atendidas pelas grandes teles e que precisavam de acesso à Internet. Atender a essa demanda, por anos, bastou para que houvesse grande crescimento.
Porém, essas empresas mantêm muito de suas origens. Surgidas, geralmente, a partir da iniciativa de um profissional com grande conhecimento técnico, continuam, ainda hoje, apresentando deficiências quanto à visão empresarial e de gestão. Prova disso é o não cumprimento por muitos de obrigações regulatórias básicas, como o envio de dados à Anatel, acima mencionado. Desta forma, mesmo após um movimento de profissionalização e concentração, muitos ISPs desconhecem maneiras de fomentar seus negócios, por exemplo, valendo-se de publicidade.
A comunicação é a principal ferramenta para se apresentar produtos e serviços àqueles que podem por eles se interessar. Além da existência da oferta em si, a publicidade pode fomentar a demanda, apresentando benefícios, vantagens e custos. Estes últimos, hoje, são consideravelmente inferiores que há poucos anos atrás.
A partir da migração da propaganda da grande imprensa – jornais, TVs, rádios e portais – para mídias como Facebook e Instagram, os valores pagos por anúncios foram reduzidos a frações do que eram. E, nesses canais, há ferramentas capazes de direcionar as mensagens a pessoas que habitam regiões específicas, enquadram-se em determinados padrões de renda, dentre outros critérios, que tornam esse tipo de ação muito mais eficiente.
Por conta das características do setor, como a limitação geográfica da atuação dos PPPs, ações eficazes nesse sentido demandam parcerias com agências especializadas, que conhecem tanto o segmento quanto a forma de atuação das empresas e, assim, sabem quais as maneiras mais eficientes para se chegar aos que podem se interessar pelas ofertas. Se a simples demanda por banda larga não é mais suficiente para garantir o crescimento das carteiras de clientes, a profissionalização dos provedores regionais, em curso há anos, talvez tenha chegado a um nível em que se faz necessária a busca por estratégias voltadas à geração de novos negócios.
(*) Fabio Vianna Coelho é sócio da VianaCom, agência de propaganda especializada em ISPs.