Como o COVID-19 vai afetar a sua empresa?


Maurício Martins*

Para chegar à conclusão de como seu ISP será afetado, precisamos entender brevemente como funciona a economia, para daí, deduzirmos as implicações que afetarão a sua empresa. Sendo a economia uma ciência humana, como proposto por Ludwig Von Mises em “Ação Humana,” precisamos entender melhor o comportamento das pessoas. Vamos ao que interessa.

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Imagine que a economia global é uma ponte que liga duas cidades. Certo dia, um fusca passa sobre essa ponte, causando o seu colapso. Intuitivamente, sabemos que a culpa aqui, certamente não é do fusca, mas da ponte, que, devendo aguentar toneladas de peso, ruiu com apenas um carro passando sobre ela. Pensamos então em quem construiu esta ponte e nos fatores que levaram ao enfraquecimento desta estrutura.

Em economia, esta relação não fica tão clara para os leigos. Mas podemos entender o ocorrido da seguinte forma: a economia se orienta pelo sistema de preços, que é o melhor sistema de alocação de recursos que conhecemos. Preços nos indicam quando, onde, quanto e como produzir ou investir. Se este sistema é distorcido, maus investimentos são feitos.

O preço que permeia todos os setores da economia, é a taxa de juros, entendida como o custo do dinheiro no tempo. Logo, uma distorção da taxa de juros, causa uma distorção nos investimentos. Mas de que forma?

A simples existência de bancos centrais, como prestamistas de última instância, serve como um incentivo à prodigalidade do sistema financeiro. Afinal, o banco central estará lá para me dar dinheiro se eu quebrar, o que é um desincentivo à poupança, já que o que o banco central fará é punir os investidores e instituições financeiramente responsáveis para recompensar as instituições irresponsáveis. A injeção de nova moeda na economia, causa um efeito que conhecemos como inflação.

Mas precisamos definir melhor os termos por aqui: inflação é a injeção de moeda adicional na economia. Aumento de preços é apenas o efeito desta ação. Mas a inflação tem um efeito nefasto pouco conhecido: ela é, na prática, um roubo dos últimos recebedores, para o benefício dos primeiros recebedores, como explicado por Cantillon. Resumidamente, Cantillon explica que o novo dinheiro injetado na economia vai perdendo valor a cada transferência realizada e o último recebedor terá em mãos dinheiro que compra menos produtos, graças à elevação dos preços.

O controle central da taxa de juros realizado pelo Estado é uma distorção do sistema de preços. Quando a taxa de juros é artificialmente controlada para baixo, dá-se aos investidores a impressão de que o dinheiro está mais barato, porque, teoricamente, há mais capital disponível (quando na realidade, não há). A taxa de juros em uma economia saudável deveria ser um espelho direto da taxa de poupança da população, que está diretamente ligada à sua taxa de preferência temporal². Ou seja, quanto mais dinheiro poupado, mais capital disponível, menor a taxa de juros da economia.

Os empresários trabalham com os incentivos e preços de mercado e respondem aos estímulos. Taxas de juros baixas atraem investimentos para setores que antes não eram economicamente viáveis. Desta forma, empréstimos são tomados, empresas são abertas, maquinários são comprados, funcionários contratados, etc. No curto prazo, isso funciona e a economia parece estar crescendo. Mas quando a casa começa a cair, a taxa de juros começa a subir e as empresas começam a ficar insolventes, a cadeia é afetada em efeito dominó, levando junto com as empresas seus fornecedores, seus credores, chegando ao prestamista de última instância, o banco central, que tem uma decisão a tomar: inflar mais a bolha, baixando mais os juros, injetando mais dinheiro na economia, empurrando o problema para daqui algum tempo, ou deixar o sistema entrar em recessão e se reajustar sozinho. Os bancos centrais parecem nunca entender que a “solução” que dão para crises, é justamente a gestação da próxima, que será ainda maior.

Podemos comparar isso com uma ressaca, para a qual, o remédio sugerido é continuar bebendo mais álcool.

Tudo isso foi necessário para entendermos que a ponte, a economia, já estava devidamente fragilizada quando o fusca, o coronavirus, chegou.

No mercado de provedores, encontramos empresas com ótimas margens, EBITDAS elevados, 100% de capital próprio, que pouco tem de se preocupar com taxa de juros. Mas lembramos que os provedores dependem do pagamento recorrente de seus clientes, que trabalham em diversas empresas que são muito mais afetadas pela elevação da taxa de juros.  Será que os provedores estão preparados para a crise mundial sendo alimentada pelo FED e demais bancos centrais?

No atual cenário, com cada vez mais quarentenas forçadas, home offices, férias coletivas, onde a demanda por banda deve aumentar, muitos provedores poderão ter problemas, já que é prática recorrente vender mais banda do que se pode entregar, devido à demanda dinâmica dos clientes. Ao passo que, com o aumento das quarentenas, há menos empresas produzindo, menos empresas comprando, ocasionando menos lucros, menos capacidade de pagamento de folha, etc. Assim, vemos o provedor sobre uma faca de dois gumes: seus clientes por um lado precisarão de mais banda, e pelo outro, tendem a não conseguir pagar mais.

E o seu ISP,  está preparado para este cenário?

 


* Analista financeiro Vispe Capital

 

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