Por: Samuel Carvalho*
O mundo está demandando, cada vez mais, capacidade de processamento e armazenamento de dados. Essas duas necessidades estão impulsionando o setor de data centers a novos patamares.
Nesse cenário, o Brasil se destaca como um dos países mais promissores para a instalação e expansão de data centers.
Já vemos por aqui diversos tipos de operadores, como os Hyperscale (empresas que possuem data centers dedicados para suas próprias operações e para oferecer serviços de nuvem e IA), os Wholesale (operadores que alugam grandes blocos de capacidade para atender clientes específicos) e os Colocation ou multi-tenant (que comercializam partes de sua capacidade para diversos clientes corporativos, desde pequenas empresas até grandes corporações).
Estimativas da consultoria Arizton Research publicados em abril deste ano apontavam que, até 2030, os investimentos em novos projetos de data centers chegariam a US$ 3,5 bilhões ao ano no Brasil. Mas isso mudou. Atualmente, as previsões de investimentos anuais em infraestrutura para data centers no Brasil saltaram para US$ 6,5 bilhões.
A receita do setor no Brasil também mudou. De acordo com a consultoria Oliver Wyman, a receita estimada de US$ 1,3 bilhão em 2023 saltaria para quase US$ 2 bilhões em 2027.
Diversos fatores têm contribuído com isso, como a oferta de energia limpa renovável; a posição geográfica favorável, com destaque à Fortaleza, no Ceará, que é um dos maiores hubs de cabos submarinos do mundo; e a própria transformação digital, impulsionada pelas novas tecnologias, como a Inteligência Artificial.
Eficiência Energética
A eficiência energética é uma questão crucial para os data centers, principalmente por conta da inteligência artificial, uma vez que o treinamento e o funcionamento de algoritmos de IA exigem enormes capacidades de processamento e armazenamento.
A consultoria Oliver Wyman estima que a demanda global por energia para data centers deve crescer 16% ao ano até 2026. Isso é bem factível quando avaliamos que o consumo de energia por rack está subindo de, aproximadamente, 5 kW para até 100 kW, em algumas configurações.
Dados da Associação Brasileira de Data Center mostram que o Brasil possui, atualmente, aproximadamente 580 MW instalados, com expectativa de ultrapassar 2 GW até 2028.
Por conta disso, o Brasil torna-se um local atraente para data centers graças a sua matriz energética diversificada, composta em grande parte por fontes renováveis. Com cerca de 60% de sua energia proveniente de hidrelétricas, e um crescimento significativo em energia solar e eólica, o país tem as condições ideais para suportar as demandas crescentes de energia.
Vale destacar, nesse sentido, os avanços em energia eólica no Ceará, que tem condições de atender às demandas crescentes dos data centers de Fortaleza, que estão localizados ou sendo construídos na Praia do Futuro.
Além disso, a localização geográfica do Brasil o posiciona como um hub estratégico, facilitando a conexão entre a América Latina, os Estados Unidos e a Europa.
O hub de Fortaleza, por exemplo, já é um dos mais importantes do mundo, possuindo uma infraestrutura de quase 20 cabos submarinos, sendo um dos Pontos de Troca de Tráfego que mais cresce em volume de dados.
E a tendência é que isso cresça ainda mais com as novas rotas de cabos submarinos que estão sendo implementadas.
Interesse empresarial
Tais vantagens tem despertado o interesse das empresas, de todos os portes, que estão investindo e procurando oportunidades. Nesse cenário competitivo, grandes players, como Amazon Web Services, Google Cloud e Microsoft Azure estão reforçando suas operações no Brasil, o que contribui para o fortalecimento do mercado de data centers local.
Esses investimentos não só trazem novos recursos ao setor, mas também representam um avanço na modernização da infraestrutura digital brasileira, permitindo que o país acompanhe a transformação digital global.
Um bom exemplo é o AngoNAP 2, o novo data center da Angola Cables, que cuja infraestrutura já é voltada para atender as grandes demandas, como as de IA, armazenamento, dentre outras.
Além das gigantes, também há um grande mercado de crescimento. Atualmente, apenas 15% das empresas que precisariam estar dentro de data centers já fizeram essa migração, o que abre um grande campo de negócios.
Desafios para o setor:
Apesar do cenário favorável, o setor ainda enfrenta desafios, que podem prejudicar a expansão e a consolidação dos data centers no Brasil. Precisamos lembrar que estamos competindo contra outros países, que também possuem matrizes energéticas limpas e condições de atrair os data centers para seus territórios, como Chile, Colômbia e algumas nações do Sudeste Asiático.
Os custos envolvidos na importação dos componentes são muito altos, reflexos da carga tributária e oscilação do dólar, o que aumenta os custos operacionais e a expansão do setor em comparação com outros países.
Os prazos envolvendo questões burocráticas e licenciamentos ambientais e operacionais também é lento, podendo levar até 18 meses.
Além disso, há a necessidade de que haja uma expansão das redes de transmissão de energia e infraestrutura de telecomunicações, de forma que possam suportar a demanda. Essas redes precisam de investimentos e atualizações para atender aos requisitos de data centers modernos.
Conclusão
O Brasil está se posicionando de forma única no cenário global de data centers, impulsionado por investimentos robustos, um ambiente favorável para energia renovável e uma localização geográfica estratégica.
A combinação de uma matriz energética sustentável, a urgência em atender à demanda por processamento de dados e o surgimento de uma concorrência inovadora cria um panorama extremamente positivo para o setor.
Contudo, o Brasil precisa se tornar mais competitivo, reduzindo barreiras, como a burocracia e a carga tributária sobre equipamentos, para atrair mais investimentos internacionais e promover o crescimento do setor, além de aprimorar as redes de energia e telecomunicações existentes.
Assim, os próximos anos poderão ser cruciais para transformar o Brasil em um líder regional e global na indústria de data centers.
Com um futuro promissor pela frente, o potencial do Brasil para se tornar um hub de tecnologia e inovação está mais evidente do que nunca, prometendo não apenas atender às necessidades locais, mas também estabelecer conexões vitais com o mercado global.
* Samuel Carvalho é líder de marketing global da Angola Cables
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