Os desafios que envolvem a agricultura familiar na busca de maior produtividade e eficiência têm relação importante com a transformação digital que está em andamento no agronegócio. Enquanto os grandes produtores avançam nessa área, dados mostram que ainda há um gargalo quando se trata de pequenas e médias propriedades para atingirem o agro 4.0. Para ajudar a acelerar esse processo, políticas públicas seriam bem-vindas e,em alguns casos, necessárias para que todos ganhem em competividade e melhoria no bem estar da população rural.
Essa foi a visão apresentada pela presidente do Conectar Agro, Ana Helena de Andrade, que debateu o tema durante o Agrotic 2023. Um estudo realizado pela entidade em parceria com a Universidade de Viçosa, analisou 100 propriedades com esse perfil e mostrou que 85% dos produtores de menor porte têm acesso à conectividade em suas casas e na sede da fazenda. “Mas aí começa a dificuldade porque a sede não é onde ele vai exercitar sua atividade agrícola e onde precisaria estar conectado”, observou.
O acesso à conectividade nas propriedades rurais é recente, não mais que quatro ano, e o acesso é praticamente voltado para a compra de insumos, sem as demais soluções da agricultura 4.0 já que o campo não está coberto. Ana Helena lembra que em algumas atividades, como a soja, o preço é dado pelo mercado, em geral os grandes produtores, e aos pequenos resta tentar adaptar os custos de sua produção para ter algum ganho com esse valor.
“O desafio é gigantesco, esse produtor precisa habilitar a digitalização de sua produção para ser competitivo e alcançar um círculo vicioso: plantar mais, aperfeiçoar sua produtividade e obter resultados”, disse. Ela não tem dúvidas de que esse quadro existente hoje pode ser revertido com políticas públicas em parcerias dos governos federal, estadual e municipal. A entidade tem tentado mobilizar esforços nessas três esferas para alcançar o objetivo de aumentar a cobertura e, com isso, proporcionar mais renda ao trabalhador rural e aumentar o IDH das cidades.
A Conectar Agro é uma entidade que une empresas diferentes do setor privado do agro, soluções e conectividade e já conquistou a marca de 12 milhões de hectares cobertos em todo o país. Mas a presidente acredita que há a outra ponta, a da agricultura familiar, que exige ainda mais esforços.
Vânia Moda Cirino, diretora de pesquisa e inovação do IDR-Paraná, concorda que há necessidades de políticas públicas e lembra que algumas estão em andamento. No Paraná, hoje há dois cenários distintos que mostram essa demanda para o pequeno produtor. De acordo com a executiva, os grandes produtores respondem por 80% do valor bruto de produção e 44% estão totalmente conectados. Já os pequenos respondem por apenas 15% desse valor e 56% não têm acesso à Internet. “O último censo do IBGE mostrou que 65 mil estabelecimentos da agricultura familiar fecharam as portas no estado”, ressaltou.
Esses números levaram o Instituto a revisar sua estratégia de transferência de tecnologia, antes mais concentrada em vitrines, e agora estão mais concentradas no desenvolvimento de aplicativos, por exemplo, que podem aproximar os produtores dos distribuidores e consumidores e chegam mais rápido ao pequeno fazendeiro. Dessa forma, inclusive, é criado mais interesse no jovem para que ele possa permanecer à frente dos negócios.
Mas o IRP também está conectado ao Seagri, Sistema Estadual de Agricultura do Paraná, que trabalha com algumas diretrizes para os próximos anos. Entre elas, há programas de segurança produtiva e tecnológica, segurança energética e conectividade , segurança da informação e o uso de produtos tecnológicos na produção sustentável.
Conectividade a baixo custo
Com sua experiência em diversos mercados emergentes a IHS Towers está disposta a investir alto na entrega da conectividade para áreas rurais mais afastadas e com propriedades de pequeno e médio porte. Aldo Clementi, diretor de Desenvolvimento de Negócios, acredita que a empresa tenha o perfil adequado para ajudar nesse “desafio gigantesco” de conectar a agricultura familiar, tanto que criou uma vertical de agronegócios como fez no passado para atendimento a comunidades concentradas na periferia de áreas urbanas.
“Estamos trabalhando no conceito de Distrito Agro Tecnológico que vai operar com um agente da área a ser coberta para implementar soluções de conectividade de baixo custo”, disse. Esses agentes ficarão responsáveis por conquistar a adesão dos pequenos produtores ao projeto e quanto mais adesão mais o custo ficará mais atrativo para a agricultura familiar.
A IHS já realiza um piloto no interior de São Paulo ao lado do CPQD que é parceiro da Embrapa no projeto Semear que tem, justamente, o foco na transformação digital dos pequenos e médios produtores. De acordo com Clementi, outros parceiros serão bem-vindos levando soluções do Agro 4.0 ou mesmo complementando a conectividade oferecida pela companhia, como a tecnologia via satélite. O piloto tem um potencial de reunir até 5 mil produtores e o executivo informou que o processo de adesão tem caminhado bem.
Outro braço com que a IHS trabalha são sites itinerantes, também de baixo custo e com tecnologia embarcada. O produtor rural poderá, por exemplo, levar essa cobertura para áreas onde são necessárias, como no momento da colheita ou outras atividades, e deslocar o site quando não for mais necessário. “Nossa experiência em países emergentes nos favorece e estamos plenamente capacitados para o desafio”, analisou.(Por Wanise Ferreira)
No Comment